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Não sou muito chegado em recordações, mas no domingo último acordei tomado por intensas recordações de minha infância. E olhe que sou jurássico! Pois é, recordo-me dos meus sete ou oito anos de idade, das artes que aprontei, naquela fase de santa inocência em minha vida. Morava na Floriano Peixoto, pertinho da atual Padaria Brasil, do meu amigo Maurílio. Era uma casa de esquina, com um quintal enorme. Confrontava ao fundo com a residência de um senhor japonês, já de meia idade. Zeloso e amante das plantas, o nipônico tinha várias árvores frutíferas em seu vasto quintal. Dentre elas, uma frondosa mangueira que dava frutos em abundância. A divisa entre nossas residências era marcada por uma cerca de balaústre, muito comum àquela época. Meu irmão e eu não resistíamos pular a cerca para ¨roubar¨ as deliciosas mangas. Assim foram uma, duas vezes, sem que o vizinho desse a bronca. Aliás, ao perceber nossas presenças em seu quintal, prendia seu cachorro policial embora já tivéssemos feito amizade com o animal que nos aceitava numa boa. Foi aí que a sabedoria oriental mostrou a sua cara. À época da maturação das frutas, nosso vizinho passou a colocar na cerca várias delas bem madurinhas. Entendi a lição. Foi sua maneira de nos fazer compreender que não deveríamos mais pular em seu quintal.
Tempos bons aqueles! Não havia televisão e internet, só o rádio imperava. Acompanhava com assídua frequência vários programas de rádio teatro pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Ouvia, exatamente às 18 horas e até às 19, As Aventuras do Anjo, um poderoso super-herói que combatia o mal. Também seguia Jerônimo, o herói do sertão, outro baluarte do Bem, defensor dos fracos e oprimidos. Na rádio local (ZYB-3, Lins Rádio Clube), acompanhava as transmissões esportivas dos jogos do Linense na voz de Fiori Gigliotti que, aos domingos, também comandava o programa infantil de auditório, Alô, gurizada. Mal sabia eu que, anos mais tarde, seria seu apresentador. Desde aquela época a paixão pelo rádio sempre me acompanhou, tanto assim que ao completar meus 17 anos, ingressei na profissão que até hoje exerço.
Recordar é muito bom, mas sem o ranço do saudosismo exagerado que muitas vezes torce os fatos e nos leva a fantasiar situações que jamais vivemos, mas que acreditamos termos vivenciado. Talvez por isso eu evite recordar com frequência Esta fcrônica foi um desses raros mergulhos em meu passado distante ...
cilmarmachado@yahoo.com.br